top of page
Buscar
jhiroshi

Terapia não funciona

Atualizado: 23 de nov. de 2023

"Não tenho paciência para ir em uma nova terapia para explicar tudo de novo. Falar sobre o passado me faz muito mal, estou descrente com a terapia".

O tamanho do puzzle (quebra-cabeça) varia do tempo que o paciente preferiu encaixotar para viver a vida intensamente, nem sempre disponível, apenas respirar já é suficiente...
O mundo moderno exige-se racionalidade e praticidade, sem tempo para enrolações e perda de tempo. A psicoterapia vai em sentido contrário a esse comportamento

Iniciar um sessão de psicoterapia é um grande passo, porque diferente da psiquiatria que a intenção é suprimir o sofrimento psíquico e emocional por um período de tempo através de uma medicação de tarja preta que tem lá seus efeitos colaterais nem sempre amigáveis, a terapia por mais que inicialmente se trabalhe com o acolhimento, ele irá trabalhar em parceria com o paciente em lidar com suas sombras, exatamente aquilo por que o/a faz sofrer e se angustiar.


Realizar terapia é um ato de coragem e é necessário se sentir preparado para se envolver nas sessões, por isso que não funciona ir obrigado, cobrado por outras pessoas, isso não se barganha. Mesmo em dúvida, uma tentativa, na incerteza, o paciente é quem dá seu primeiro passo.


No caso de crianças e adolescentes que não são responsáveis e são direcionados por seus pais a realizarem terapia, por vezes nem sempre estão dispostos a fazer o tratamento. Neste caso, é de grande importância a participação de responsável também no tratamento. Justificativas são dadas aqueles que dizem que o problema não é dele/dela e sim da criança ou adolescente, é um engano pensar assim, quem cria a rotina é o adulto, a forma como direciona seus filhos tem muito a ver com a postura e comportamento atípico que esse indivíduo se desenvolve ao longo do seu desenvolvimento.


Existe outro equívoco muito grande nas terapias, quando o paciente raciocina que o tratamento se resulta em ele contar sua queixa, suas frustrações, mágoas, traumas e o terapeuta em desdobrar-se atrás de soluções cabíveis ao seu sofrimento, na tentativa de lhe dar uma luz ou um mecanismo aplicável em situação de crise para lidar num momento difícil. Neste último procedimento, a Terapia Cognitiva Comportamental TCC é mais cabível quando se trata de uma paciente com uma alteração significativa de ansiedade ou um paciente adicto em que é necessário prever e evitar certos gatilhos, dependendo do ambiente, podendo lhe deixar vulnerável.


Mas não sendo desta forma, algo mais pontual, de ação e resposta. O paciente que precisa lidar com seu sofrimento emocional e psíquico, busca por fórmulas milagrosas para lidar com seu tormento. Não funciona assim, na relação paciente e psicólogo em sessão, o profissional atento a escuta clínica da fala do paciente, tem que ter a sensibilidade, a experiência e o o estudo para saber validar e dar consciência ao percurso sócio histórico do paciente que muitas vezes não percebe ou se nega a aceitar as escolhas que traçou ou precisou vivenciar. Trata-se de certa forma responsabilizar-se pelas alternativas, pelas escolhas, nem sempre agradáveis, resultados desastrosos, um efeito colateral indesejável, uma necessidade de perdão, de reclusa, de aceitação, se não, ao menos a consciência plena e honesta da situação nua e crua. Nem sempre é fácil, é um processo por vezes a longo prazo, refazer uma sombra por um outro olhar sem juízo de valores, na tentativa de legitimar a experiência toda.


Choros, raiva, negação, tristeza, desanimo, cólera, um misto de expressões a cada sessão, não é fácil se sentir exposta, fragilizada num mundo que te julga e que te condena. Muitas vezes é o próprio paciente que tem sua própria corte, raras as ocasiões quando se tem uma defensora para lutar por suas ações e efeitos. Geralmente a corte só possui o seu promotor ferrenho e um juiz condenatório.


Ao término da sessão, por vezes, um vazio se estende quando a sessão foi para acolher o ego, geralmente procedimento necessário quando o emocional enfraquecido e debilitado necessita ser massageado e suprido. Quando o psicólogo não requer essa prática em sessão, o paciente é uma Caixa de Pandora*, vai reagir de diversas formas ao ter lidado com suas sombras, perguntando-se por vezes: " Era para eu sair melhor, mas me sinto pior" - o processo terapêutico é vivenciar o que nos aflige, nos magoa de forma mediada por um profissional qualificado, porque neste caso é impossível resinificar a experiência por si só.


Resinificar também é um processo terapêutico, há outras formas de lidar e dar sentido ao sofrimento. O paciente e psicólogo vão descobrir juntos, trata-se de um trabalho de vínculo e confiança, quedas e levantes.


Quando não ocorre desta forma, o paciente não se rende a terapia. No caso render-se no sentido de compreender que o processo terapêutico, ele é o sujeito de ação e não o psicólogo. Fica difícil uma abertura para o tratamento já que se busca algo formulado, então se recorre a buscar outro profissional que lhe dê a resposta certa para seu sofrimento, como se o tormento fosse uma doença diagnosticada em que o enfermo não tem culpa e que a cura é algo externo, um remédio que basta engolir e esperar que se faça o efeito correto.


Com o tempo, a tentativa de ir a tantos psicólogos se torna um "Santo Graal*", algo inalcançável e se torna cansativo, extremamente doloroso, pois cada profissional é uma tabula rasa* que desconhece o paciente que vem pela primeira vez, então é necessário que o/a paciente desvele novamente todo o repertório de seu sofrimento, que se estabeleça novamente o vinculo e a confiança com o profissional. Tarefa essa, muito descrente ao paciente quando a busca sempre foi por uma formula mágica....



A Caixa de Pandora é um objeto extraordinário que faz parte da mitologia grega. Trata-se de um caixa onde os deuses colocaram todas as desgraças do mundo, entre as quais a guerra, a discórdia, as doenças do corpo e da alma. Contudo, nela havia um único dom: a esperança.


Na literatura medieval, a procura do Graal representava a tentativa por parte do cavaleiro de alcançar a perfeição. Em torno dele criou-se um complexo conjunto de histórias relacionadas com o reinado de Artur na Inglaterra, e da busca que os Cavaleiros da Távola Redonda fizeram para obtê-lo e devolver a paz ao reino.


Locke detalhou a tese da tábula rasa em seu livro Ensaio acerca do Entendimento Humano, de 1690. Para ele, todas as pessoas nascem sem conhecimento algum (i.e. a mente é, inicialmente, como uma "folha em branco"), e todo o processo do conhecer, do saber e do agir é aprendido através da experiência.









14 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page