Quando sentimos uma angústia muito grande, ela costuma vir acompanhada por uma intermitente sensação de ansiedade e preocupações. Posteriormente sintomas físicos de comorbilidades como palpitações, sudorese e dores de cabeça podem surgir. Tais comportamentos de supressão emocional costumam ter uma alta tendência quando é algo guardado a muito tempo sem remissão ou em sigilo pessoal. Mesmo em escala mediana, é uma sensação desconfortável que gera insatisfação com o tempo a nível crescente.
As vezes é possível compartilhar a angustia com a família, um parente, uma melhor amiga. Algumas situações que podem ser resolvidos (ou não). Outros compartilharam com o cabelereiro, com o motorista do Uber, do garçom que o atende a anos, da amiga de mais de 30 anos de amizade. Nem sempre será possível revelar toda a situação sem deixar a margem a opinião alheia, um olhar de desaprovação, uma criticidade feroz ou algo que o(a) envergonhe e se sinta ainda mais culpado(a) ou julgado(a).
Sendo assim para evitar constrangimento e ser julgado, alguns adotam a postura de fazerem um recorte da situação, omitindo peças importantes que compõem a origem da angustia. Existe uma grande necessidade de acolhimento, de serem compreendidos, aceitos e consolados e uma vez que se sinta apto a se apresentarem desta forma, pode-se tornar um ciclo repetitivo em partilhar a angustia e conduzir sua história a bel prazer com o único intuito da absolvição da inquietude, ao menos durante um período, podendo ser de um dia ou uma semana de paz.
É uma falsa ilusão, ao dividir a angústia com outros, o paciente nem sempre terá um olhar verdadeiramente de si, sempre será referente a experiência alheia de como "ele" lidou com aquela situação ou o que 'ele" faria em seu lugar se estivesse passando por isso. Esse também é um grave erro encontrado em leituras de autoajuda.
A psicólogo inicialmente com a intenção de construir vínculo realiza o procedimento do acolhimento nas primeiras sessões, sem a postura de utilizar quaisquer referência sugestionável geralmente no dito popular do "lhe dar um conselho". A proposta inicial é um meio de validar o paciente de seu argumento e compreender como constrói sua história, o que chamamos numa linguagem da psicanálise de "conteúdo manifesto".
Por vezes o paciente também cria uma falsa ilusão de apaziguar seu sofrimento com a primeira sessão, da mesma forma que criou o hábito cíclico de compartilhar suas angustias com o cabelereiro e outras pessoas do seu entorno. Quando o paciente se sente absolvido de sua angustia momentaneamente, ele se dá "alta" da psicoterapia e raramente retorna, pois já desenvolveu o hábito de descarregar sua angustia por meio deste tipo de compartilhamento.
Outra razão da partilha se deva (para alguns) repartir com estranhos na tentativa de não houver uma próxima vez, para evitar um possível julgamento ou qualquer efeito contrário que não seja o consolo, já que ao ouvir mais de uma vez a mesma história, pode-se opinar sobre o assunto desta vez.
O processo terapêutico é como sair de uma ilha num bote, é preciso passar pela barreira das primeiras ondas, o "conteúdo manifesto" daquilo que ele já faz algum tempo, mas nunca ouve tentativa alguma de ressignificação e remissão. Precisa ir além, se olhar sob a perspectiva de si mesmo e não do outro ou de quem lhe escuta, não se trata de um processo simples, mas dará a quem passe para outras águas, a compreensão, a consciência e a autonomia necessária para lidar com suas angustias e no seu tempo alcançar sua anistia.
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