Feito o enquadre dos valores negociados e dia e hora de atendimentos na primeira entrevista, o cliente passa então vir às sessões psicoterápicas a fim de trazer suas questões que o aflige, pode também trazer questões profissionais, de ordem amorosa ou não necessariamente por alguma dificuldade e sim por um autoconhecimento, mas essa ultima opção, são poucos que procuram infelizmente o psicoterapeuta para as sessões.
É durante as primeiras sessões que também ocorre à afinidade do cliente com o psicoterapeuta, muitas vezes isto já ocorre no primeiro encontro. Parece que o papel é trocado, o cliente passa a observar, medir e avaliar o profissional por quem será responsável em ajudá-lo psicologicamente durante um período incerto. Tudo isso tem uma boa razão, essa conexão tem que fluir de forma atrativa, de identidade, de inclinação, de semelhança mútua, caso contrário o processo psicoterápico não ocorrerá de forma satisfatória. Por isso que o cliente tem que informar caso não se sinta numa relação de empatia com o psicoterapeuta.
O papel do profissional será informar ao cliente que isso é perfeitamente normal, que não há problema de não continuar as sessões por conta disso. Contudo nem sempre ocorre desta forma, há profissionais que tentam persuadir um contrato de serviços psicológicos independente de não ter ocorrido à afinidade, colocando o cliente em “saia justa” para desvencilhar da situação.
As sessões psicoterápicas não tem um limite certo, não existe uma data ou hora pré-programada para terminar, as questões trazidas pelo cliente pode variar, pode ser algo mais brando ou algo que necessita mais cuidado, mais sensibilidade ou delicado de se expor para o cliente. A verdade é que para o processo terapêutico vai depender do entendimento do cliente, de auto avaliar-se, de promover a mudança em si diante das questões exposta ao psicólogo cujo trabalho é de certa forma orientar, fazer o cliente perceber de sua própria fala e em possibilitar principalmente a escuta clínica.
O que acontece com frequência é desabafar as angústias numa conversa com o taxista, com o cabeleireiro, com o barbeiro, com a manicure, com a vizinha, com a amiga, com o cunhado e outras pessoas que pressupõem uma boa avaliação de confiança por parte do cliente. Essa postura é o que os psicólogos chamamos de “esvaziar o copo”, é uma conversa de descarregar o “peso” dos problemas momentaneamente sobre seus “ombros”, queixar-se, atribuir um problema como sem solução e repassar apenas alguns aspectos do problema, pois a essência do que aflige o cliente pode não ser bem interpretada por quem ouve, dali o problema do juízo de valores que cada ouvinte possui sobre seu ponto de vista.
Além disso, há o inconveniente do problema do senso comum, ao falar de um problema com alguém, o cliente está sujeito a uma devolutiva baseada no bom senso, o mesmo que recebemos em mensagens positivas do WhatsApp, contida em orientações de livros de ajuda. Parece-nos ser bom, mas não se pode achar que a experiência de um servirá de modelo para outro, pela simples questão de que cada indivíduo se constituiu de uma forma diferente na sua trajetória de vida, os significados e os valores são únicos e podem não fazer sentido para aquela mensagem de apoio.
Então a ferramenta da escuta clínica que o psicólogo utiliza é uma escuta sem juízo de valores e sem o senso comum, é um trabalho laborioso em que o psicólogo tem se colocar-se de forma neutra atribuindo a construção de autonomia do cliente pelos seus próprios significados simbólicos, do juízo de valores a partir do que o cliente atribui para si e não pelo que é do psicoterapeuta. Um processo que parece simples á princípio, mas trata-se de um processo meticuloso, cuidadoso e delicado.
A princípio é de se esperar que o cliente manifeste o que chamamos de conteúdo manifesto, pela vertente da psicanálise, em que o cliente vai trazer aquilo que ele traz como questão, mas que de forma superficial, tal como conversar sobre a angústia com um amigo mais próximo, sem tanto de querer se expor diante também de suas faltas nesse processo.
Em um segundo momento, o cliente traz o que chamamos de conteúdo latente, também pela vertente da psicanálise, em que traz aquilo que oculta ou não revelou, geralmente é um momento muito delicado a exposição de alguns fatores em que rompe a barreira da conversa casual e passa realmente tratar a essência das angústias sem o fator do pré-julgamento ou das estereotipias clássicas de rejeição que o cliente possa ser taxado.
Não são todos os psicólogos, mas se usa também testes de personalidades, como o Teste de Rorschach que revela a organização básica da estrutura da personalidade, incluindo características da afetividade, sensualidade, vida interior, recursos mentais, energia psíquica e traços gerais e particulares do estado intelectual do indivíduo ou as Pirâmides Coloridas de Pfister que visa à análise da emocionalidade de adultos, adolescentes e crianças dentro do quadro de diagnóstico da personalidade de pessoas normais e neuróticas.
Aplicação não tem carácter de uma avaliação tal como usado por processos de seleção profissional usado em agências de recursos humanos, a intenção é possibilitar que o psicólogo possa de certa forma “prever” quando o cliente ao lidar com determinada angústia que tem muita dificuldade em lidar emocionalmente ou em promover mudanças em si, possa pelas informações obtidas pelo teste, ver o quanto de repertório simbólico possui para lidar com determinada sugestão diante daquele momento em sessão psicoterapêutica.
Criou-se infelizmente uma má fama em relação aos testes psicológicos pela vertente da psicologia organizacional em recursos humanos, justamente pela falta de informações aos participantes sobre a devolutiva de suas aplicações.
Em todas as profissões, vai depender de quanto o profissional vai estar pronto para assumir suas responsabilidades profissionais, é importante a capacitação de formação continuada em especializações, congressos, workshops. Não basta também só os estudos, a experiência também conta muito, é dali que vem a habilidade, a excelência do que se faz, a confiança de quem nos relacionamos profissionalmente caminha junto nesse processo, tudo deve ser pensado, tudo tem que ser muito bem organizado, bem executado. O psicólogo não é diferente do resto das profissões, então diante desse olhar, realmente a psicoterapia pode ser um diferencial da vida de quem realmente esteja buscando um sentido para sua vida, de arejar e rever velhos padrões, de realizar mudanças na vida, novas escolhas, novas ideias, reivindicar o controle da vida diante daquela angústia crônica que empatava na sua escolha, em seus rumos daqui para frente.
Autor: José Hiroshi Taniguti
Comments