Há um filme muito interessante que assisti na época em que era estudante de psicologia em que participava de um Congresso da Semana da Psicologia pela minha Universidade.
O filme era um documentário de uma senhora chamada Estamira que vivia no lixão da Cidade do Rio de Janeiro na companhia de amigos e da família. Esta senhora possuía problemas mentais e filosofava sobre problemas sociais como o destino dado ao lixão das grandes metrópoles e como viver em condições lamentáveis.
No decorrer do filme, o roteiro vai perpassando em depoimentos pela difícil vida desde quando era jovem até os dias atuais, avaliando que mesmo pelos problemas psicológicos complicados que tinha, Estamira conseguiu da sua forma, resolver-se. O cinegrafista trouxe uma atmosfera muito densa, ás vezes pesada, mas conseguiu trazer a leveza poética da vida dessa mulher fantástica.
O filme não foi exibido por inteiro, se concentrou em mostrar alguns momentos mais importantes, dando aproximadamente uns 30 minutos de apresentação, o bastante para o público entender o conteúdo geral da proposta que seria apresentado por uma psicóloga gestaltiana sobre os aspectos do filme baseado nessa abordagem.
Minha intenção neste texto não é abordar aspectos técnicos sobre a abordagem teórica, mas compartilhar o que no final da apresentação eu resolvi perguntar a palestrante uma complexa e ao mesmo tempo, uma simples pergunta: “Estamira não precisa de psicoterapia, de tratamento, não é?”.
Ela me disse que não, explicou que para Estamira, o sofrimento psíquico não a afetava, não havia sofrimento psíquico e nas confabulações que inventava, ela mesma se auto resolvia, mesmo que pelos padrões normais isso não se caracterizaria da mesma forma como um processo de cura.
Por essa visão, a psicoterapia vai ter somente efeito terapêutico desde o indivíduo tenha a necessidade de trazer questões para serem abordados pelo psicólogo, seja para um autoconhecimento, por uma dificuldade enfrentada, por dificuldades de saúde, escolarização baixa e muitas outras questões possíveis.
É muito complicado, realizar uma psicoterapia em que o indivíduo não se sinta pronto em compartilhar suas indagações são não houver a Priore, a necessidade individual. Por exemplo, o casal em conflito busque ajuda psicológica e que um dos lados não tenha esse “querer”, não se sente pronto para esse envolvimento ou uma jovem disposta a ir às sessões, mas que de fato não se “debruce” por suas questões de forma a trazer mudanças, o que nós psicólogos, chamamos de “esvaziar o copo”.
Quando era aluno, entendia que era (ainda é) errôneo que muito professores aconselhavam aos seus alunos de psicologia que fossem procurar fazer sessões de psicoterapia com psicólogos, por conduta de regra para quando atenderem não realizarem contratransferências (sensações e sentimentos que brotam no terapeuta, emergentes do relacionamento e na fala do paciente) em seus pacientes. Na preocupação de que a falta de experiência por serem recém-formados, não saberem lidar com esse processo de significação tão rico.
Sempre haverá pessoas como Estamira que não veem sofrimento psíquico ao ponto de que isso atrapalhe sua vida plena, pode sim incomodar outros que podem definir a loucura de cada um pelo seu próprio senso comum ou pelo juízo de valores. Há outros esperando que algo lhes aconteça algo de mais grave para afim procurar ajuda psicológica, como bombas-relógios, há outros ainda por decidirem o que fazer de suas vidas.
No final o que resta, é que tem que fazer algum sentido individual, pessoal para aquele indivíduo ir á psicoterapia.
O filme Estamira pode ser assistido na íntegra neste endereço do Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=KFyYE9Cssuo
Autor: José Hiroshi Taniguti
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